Wednesday, May 11, 2005

Ponderações sobre a vida e as idades (culminando no estabelecimento dos Princípios Gerais de Procedimento, deus ex machina)

Esquisito como a gente esquece do que queria escrever quando tem o teclado e monitor ou papel e caneta pela frente e lembra quando há apenas um desses pela frente.

Estranho como a cabeça para de funcionar assim que a gente senta pra trabalhar.

Bizarro como todo e qualquer pensamento e funcionamento cerebral cessam... tátátá...

Ah!!

Suponho que a idade média atingida por um ser humano, em condições primitivas e sem cultura, sem fogão, geladeira, ou mesmo mais velhos que o ensinem a matar um veado, é de uns vinte (20) anos. Acho que faz sentido, pois se alguém pode reproduzir-se aos 12 anos, até uns 18 já teve no mínimo uns 5 filhos, dos quais dois devem sobreviver, garantindo a continuidade da espécie. Acho.

Os confortos da vida moderna garantem que um sujeito sem sorte no Brasil possa chegar em média a três vezes este valor, uns 60 anos, pra não contar países como a Suécia ou Japão onde o sujeito com mesma sorte chegaria a uns 80.

Nessa imensa sobrevida, que os pesquisadores tentam ampliar ainda mais a despeito das dificuldades que o câncer impõe à vida, o sujeito fisicamente é muito diferente do que era em sua vida até os 20. Por exemplo, até os 20 anos, o tamanho aumenta, a musculatura define-se, sem muito esforco do sujeito a nao ser comer. Depois não, exceto por meios artificiais, como a operação para "esticar as canelas" feita na China ou marombação com fins ornamentais.

O [lado] psicológico nao parece respeitar muito esta barreira, entretanto é em torno desta idade que (tanto quanto eu saiba) os países determinam a fronteira entre a juventude e a idade adulta. Digo por experiencia própria, já que com 17 ou 18 anos eu nao senti diferença notavel na maneira de pensar. Hoje, com 26, sinto diferença respeitável entre hoje e há 5 anos, mas nem tanto há um ano, o que me faz pensar que evoluí (para o bem ou para o mal) de forma continua e suave, sem "solavancos". Claro que algumas coisas, como perder todas as fontes de renda ou a namorada, contribuiram para acelerar o amadurecimento, mas nada que as sementes não já estivessem plantadas.

Porém parece que minhas preocupacoes hoje são muito mais objetivas que antes (dos 20), e com muitos dos meus colegas é assim. Objetivas e práticas. A saber, dinheiro, namorada, trabalho, estudo. Não vejo mais tanto o "fazer por fazer" ou "fazer por gostar", mas sim "fazer pra chegar a um objetivo", e os objetivos convergem: dinheiro, namorada, diversão, títulos, empregos, numa rodaviva que acaba na diversão e no sexo.

Em resumo: até os 20, idealismo. Depois, cinismo e praticidade. Conforto.

E isso eu atribuo à idade média/máxima a que chegavam os nossos antepassados (ou a que chegariamos num ambiente sem cultura e sem tecnologia), à nossa propria formação estrutural. Após os 20, idade que somos feitos para durar, decaimos fisicamente e em nossa moralidade. O corpo e a mente não suportam a quantidade de experiências a que somos expostos neste tempo todo, e degeneram. O joelho estala, o tédio surge, as costas doem, a vontade passa.

Chamemos uma pessoa saída do período de crescimento (sei lá, tou falando em 20 anos, que seja) de "morto vivo" (por estar vivo numa idade inatingível ou improvável sem tecnologia).

Com o evoluir da sociedade e das técnicas e do conforto, cada vez mais pessoas ultrapassaram a linha e tornaram-se mortos vivos. E cada vez mais, o tempo que uma pessoa passava nesse estado "morto vivo" era superior ao estado anterior. Some-se isso ao fato de que poucas lembranças temos dos primeiros anos de nossas vidas, resulta que em média vivemos quatro vezes mais como mortos vivos que como pré-20 anos.

Disse anteriormente e acredito estar correto que após essa idade decaímos em certos aspectos. Temos outras ambições e outra forma de encarar a vida. Outra maneira de proceder. Antes, o idealismo, tudo parece fácil se não se entende ou se está superficialmente envolvido com as convenções criadas pelos mais velhos e com o vigor infinito que se sente. É algo poderoso, de fato. Os soldados tem mais ou menos essa idade pois estão já com o organismo formado e forte, e com a cabeça límpida e com esse envolvimento superficial com as coisas.

E é algo a ser temido. Em condições normais, esse tempo pré-morto vivo é passado em escolas que teoricamente embutem conhecimentos úteis apenas quando passado ao próximo nível da vida. O que interessa nessa idade é relacionar-se consigo mesmo e com os outros, mas como isso não se pode ensinar a ninguém senão a si mesmo (e como é interessante para a indústria que se acredite que isso resume-se a consumir), nunca foi incluída a disciplina "auto-conhecimento" ao currículum.

E perde-se tempo. Há um período, ainda, após digamos a vida média do indivíduo, que vamos chamar de pré-caixão. A maioria das pessoas que trabalha se aposenta, passa a sobreviver com subsídio do estado ou de órgão privado ou ainda da família. A falta de auto-conhecimento tem consequências trágicas aqui, a pessoa entregue a si mesma após duas ou três vidas inteiras negando-se. Não que não tenha consequências em toda a vida.

Não consigo entender pessoas que não conseguem ficar sozinhas. Passei a maior parte da minha adolescência deitado, pensando em muitas coisas ou examinando os poros do meu corpo. Aprendi que, sem atividade física por muito tempo, fico mal-humorado e tenho dor de cabeça; que a maioria das vezes em que me irrito com alguém me arrependo depois, logo é melhor pensar bem antes de dizer algo rude; que não tenho poder de concentração forte, excepto ao programar computadores, logo tenho que tomar especial cuidado ao estudar. Esses conhecimentos, apesar de aparentemente improfícuos, são valiosíssimos - para mim - e ninguém poderia ter-me ensinado. Imagino a maioria das pessoas vivendo sem esse tipo de conhecimento. Será uma coisa própria de mim? Sempre preferi descobrir as coisas por tentativa e erro, e gosto de submeter tudo a análise lógica, inclusive eu mesmo (apesar de muitas vezes isso ser terrivelmente difícil e ferir o orgulho - ah! descobri que sou orgulhoso demais e que tenho a memória péssima - isso me rendeu infinitas discussões a respeito de coisas que tinha como "certas" e depois fui obrigado a reconhecer meu(s) erro(s). Aprendi a não ter certeza e a não defender apaixonadamente minha opinião - como resultado, aprendi que tudo depende de ponto de vista, e isso me tornou melhor em muitos sentidos - aprendi a ouvir e a respeitar).

Perdendo o fio da meada. Toda o tempo de existência é centrado na idade adulta (ou estado de morto vivo, como tenho chamado). Lendo "Servidão Humana", concordo com o ponto de vista exposto, que o bem e o mal são definidos em termos de ações benéficas e maléficas para a máquina da sociedade. Pagar os impostos é bom (de novo os impostos [TIMEWARP - dá-lhe Cable!!]), pois resulta em benefício para a sociedade. Sonegá-los é mau, pelo motivo inverso. Assassinar é ruim pois ameaça a estrutura da sociedade (AES). Revolucionários são ruims pois AES. Como no princípio de Peter, o primeiro mandamento de toda hierarquia é manter-se. Tudo o que ameaça a ordem corrente deve ser eliminado. Chamemos isso Princípio Zero.

E o fio da meada? Princípio 1: a idade de 20-50 é aquela na qual o indivíduo trabalha para a sociedade e recebe compensação.

No período 0-12 anos, neste país, não é permitido trabalhar, mesmo que a partir dos 5 anos as crianças possam desempenhar certas tarefas. Motivo 1: Submeter crianças a trabalhos demasiadamente pesados reduz o tempo de vida, e põe em risco o Princípio 1. Motivo 2: há uma indústria de escolinhas, brinquedos, e parte da mídia destinada a pessoas nessa idade. É uma idade onde os pais ou tutores (avós etc) de acordo com o Princípio 1 devem pagar pelo consumo dos 0-12 anos, fazendo o capital girar e mantendo pessoas de acordo com o Princípio 1. É o Principio 2.

No período 14-20 anos, já se poderia trabalhar, mas a maioria das organizações exige graduações acadêmicas que somente são obtidas após essa idade. As que não, apresentam remunerações inferiores (se houver) e trabalhos de baixa responsabilidade [o que é compreensível - o fundamento do Princípio 1 é o que expus, o temperamento e a conformidade do indivíduo ao sistema, se o fundamento não é respeitado, ameaça-se o Princípio Zero, qed ]. O normal seria estudar, para preparar-se para a idade adulta e cumprir o Princípio 1. Alguns estudam e trabalham, argumentando que ambos são altamente benéficos e educativos. Mas o principal neste período é acostumar e preparar o indivíduo para a sociedade, ao mesmo tempo que este mantém uma taxa de consumo como no Princípio 2. Este é o Princípio 3.

Não doto um Princípio para a 3a. idade, pois conforme a idade média vai aumentando, aumenta-se também o tempo de trabalho antes da aposentadoria. Enquanto for possível permanecer de acordo com o Princípio 1, se permanecerá, por respeito ao Principio Zero.

Sendo só o que se apresenta para o momento, despeço-me.

Nota importante:

Estabeleci esse sistema sem ler nenhuma obra importante. Sou completamente ignorante em ciência social. Baseei-me apenas na minha canhestra observação do mundo e bizarra faculdades intelectuais. Transcritas apressadamente e sem revisão, não tenho a menor intenção de equiparar meus rabiscos aos dos grandes pensadores. Entretanto acredito que minha canhestra observação e questionável capacidade de raciocínio sejam tão bons (no sentido genérico) quanto de outrem, o que me incentiva a publicar estas notas.

E não me sinto obrigado a entender do assunto para emitir minhas opiniões.

Se você achou feio o que escrevi, sinto muito. Mas procuro embasar minhas conclusões com observações, coisa difícil por aí. Aposto que vai sentir falta =)

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