Saturday, September 26, 2009

Extremos do filesharing

O povo não cansou da polêmica mesmo dos compartilhamentos de arquivo ilegais (imorais?). Juntei aqui dois fatos extremos e recentes de mais um capítulo dessa história.

Outro dia eu tava saindo de carro e liguei o rádio na 107.3. Tava tocando uma música do jeito que eu gosto: guitarras fazendo arpejos dissonantes (embora não overdrivezadas), batida repetitiva e complexa na bateria, baixo esvoaçante. Minha desconfiança de que se tratava de Radiohead se confirmou ao ouvir o vocal melancólico e característico desta banda (tão característico que já penso na cara torta do safado do Thom Yorke).

Pra esses momentos, eu costumava usar uma feature do meu antigo celular Sony-Ericsson que ouve uma música, processa, manda pra algum site misterioso e retorna o nome da música, banda, disco e um simpático link para download pago. Mas, de posse do monolítico i61, só pude gravar tipo um minuto da música em péssima qualidade.

Isso com o carro em movimento.

Bão, depois que acabou a música, começou outra muito chata, e fui obrigado a mudar de rádio. Depois de um tempo, o locutor anunciou que Lily Allen desistira da música pois ficou revoltada com downloads ilegais, que segundo ela, ou o blog dela, roubam o dinheiro dos artistas.

Chegando em casa, peguei o note e perguntei pro vento "new song radiohead", e bingo! These are my twisted words na lojinha virtual dos caras! Preço? zero libras e zerenta e zeros centavos. Com direito a link opcional para o torrent. Baixei o pacote de 12 mega e veio a música, com qualidade de um bilhão de megabits/segundo, e as tags mp3 prontinhas pra se tacar no iTunes ou coisa que o valha, arte em formato TIF, ficha técnica em arquivo texto, e um PDF com mais desenhos para apreciação. E, claro, era a música com a tinta ainda fresca na minha cabeça, e que depois de muito ouvir, confirmou minha impressão de ser uma puta música legal!

Me veio na cabeça a notícia que mencionei primeiro, e comparei: uma vende milhões de cópias no mundo todo, faz turnês, tá na crista da onda de popularidade e desiste da música pq as pessoas copiam ilegalmente e roubam os centavos que ela fatura por cópia; outro tem um público mais modesto, faz música há mais de 20 anos (!), já esteve nos tops de vendas (na Inglaterra com Ok Computer, nesta e nos USA com KidA) e lança um "single" na web, de graça, com alta qualidade de som e acompanhado por arte.

O que pensar? Todo mundo deve pagar (e pras gravadoras) pela música, opinião "default" mercantilista: gastei dinheiro pra fazer, quero lucrar com quem comprar? Como o Radiohead se arranja "dando" a música de graça? Bem, eles vendem os discos pela rede a preços padrão (tipo 7 libras). A divulgação de música hoje se dá principalmente pela web, pela facilidade e baixíssimo custo envolvido na cópia. Como a venda de um objeto físico (às vezes pela própria rede!) pode competir com isso?

Mais importante: por que um artista, que lucra pouquíssimo com as vendas de um disco (em comparação com o que lucra com um show, por exemplo), anuncia que vai desistir da música por causa do download ilegal? Talvez quem mais sinta o impacto nas vendas são os que produzem hits instantâneos e de vida curta.

Prossegue o embrólio. O tempo dirá.

Friday, September 04, 2009

The Mars Volta - Bedslam in Goliath


Ouvi o Mars Volta por volta* de julho desse ano, através do Grande Chinésio, na casa do Mestre JP. Foi lá que vi mais um capítulo da minha velhice se demonstrar: perdi 5 reais no poker (num "all-in" de inacreditável burrice) e demorei para distinguir alguma música. Tava tocando a tal banda. Entre uma conversa e outra, eu reparava um barulho bizarro assemelhado a instrumentos musicais fazendo coisas muito complexas ao mesmo tempo.

Sempre me orgulhei de gostar de música bizarra: King Crimson acima de tudo, Kraftwerk marginalmente, Sonic Youth, Shostakowich, A Sagração da Primavera, enfim, tudo que foge do normal. Até o Araçá Azul, esse vai merecer um post um dia quem sabe? Tenho um particular apreço pelo Rock Progressivo, pois comecei minha carreira de apreciador de música com estes, preferidos pelo meu Pai. Mas sempre hesitei em cadastrar Rush, Marillion, Dream Theater na mesma categoria. Eles estão num nível de bizarrice inferior aos meus favoritos. Depois cansei de classificar e passei a taxonomizar.

Bão, o disco em questão foi ouvido à exaustão essa semana, e não enjoei - agora já sei o que vai acontecer depois de uma determinada parte, e não preciso prestar tanta atenção para apreciar. Pois quando você colocar esse disco no iPod e ouve fazendo outra coisa, é alta a probablilidade de não gostar e não entender nada. Eu tive que ouvir muito concentrado, pra acostumar com a forma de fazer as coisas desses caras - e gostei!

Goliath, pra mim, é o 21st Schizoid Man do século 21. A estrutura e algumas frases me remetem diretamente a essa outra música do Crimson, especialmente quando esta última vai para a parte instrumental.

Uma coisa muito interessante é que nem sempre é óbvio onde uma música termina e a outra começa. Por exemplo, Aberinkula parece terminar no meio da música, quando tudo fica silencioso e um riff bem diferente entra, e parece também avançar na próxima, pois os temas são muito similares.

Minha preferida acho que é Cavaletas, que consiste basicamente em dois temas que se repetem na música, e seguem o padrão:
1) silêncio
2) banda tocando coerentemente
3) ruídos são inseridos, os instrumentos vão desviando-se das partes aos poucos
4) ficam apenas os ruídos
5) repete

É meio que "The talking drum" do Crimson com uma dinâmica diferente. Essa tem apenas um ciclo desses, mais trabalhado e com construção de uma baita tensão no ouvinte, através do volume, ruído e dissonância dos acordes. Cavaletas é como se a banda fosse epilética, e tomasse o remédio de vez em quando para voltar ao normal =)

Muito à maneira do Rush, palavras grandes e difíceis (como "Epidemics", "Time-space", "Semantics") pontuam a letra. O vocal é parecido também, e não fica incólume da enxorrada de efeitos e distorções que afetam todos os outros instrumentos. Temos sopros e violinos também!

E, ao contrário do que parece ser o denominador comum das bandas ditas "progressivas", não há preocupação em demonstrar virtuosismo (acho que nesse ponto os anos 80 traumatizaram bastante). Se a música tem um ritmo rápido ou lento, parece sempre adequado. O virtuosismo instrumental serve ao da composição como um todo - mais um ponto positivo pra mim.

Opinião geral? Vai morar no iPod pra sempre. Fazia muuuuito tempo que eu não ouvia alguma coisa que me fizesse parar e me concentrar no que estava ouvindo. Agora tem mais discos pra eu ouvir +)










* hehe

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