Saturday, March 13, 2010

O post perdido - boatos e games

(titulo anterior: moinho de vento)

Chamamos era pré-internet a época em que ela podia ou não existir, mas definitivamente não estava acessível para nós. Nesse tempo, a forma de obter informações era no mínimo pitoresco - as fontes de confiabilidade máxima eram os pais, os professores, e a enciclopédia Barsa.

Mas o fim da era pré-internet, como se podia esperar, era a era pós-computação em casa: existiam computadores "pessoais", de poder de processamento limitado, e suas especializações, os videogames. Na verdade os computadores daquela época serviam para jogar (como o C64, MSX, TK), para digitar texto, fazer cálculos ou aprender a programar algum dos ítens anteriores, e os videogames tinham um hardware meio similar aos computadores.

No quesito computação / videogames, as supracitadas fontes de confiabilidade máxima falhavam miseravelmente, então aí entrávamos no mundo maravilhoso dos boatos, dos fatos inconfirmáveis e das verdades cambiáveis, ao confiar em informações passadas pelos amigos.

Ouvi muitos boatos a respeito do jogo "Pitfall!"- apesar de só se poder ir para frente, para trás, subir e descer escadas, e pular, dava a impressão de se poder fazer qualquer coisa, tamanha a impressão de liberdade que essa movimentação em 255 telas dava. Alguns dos boatos diziam que existia um túnel onde havia, ao invés de um escorpião, um lobo, um morcego, uma cobra (que se mexia, ao contrário da cobra da parte de cima) e outros bichos. Outros diziam que o irmão, ou o primo, ou o vizinho (invariavelmente mais velhos e/ou portadores de mobiletes, o que lhes conferia status de confiabilidade absoluta) haviam chegado à última fase, que consistia num porto, com um barco, onde você entrava e ia embora pra casa. Descobri agorinha que o jogo tem um fim, sim, se você pegar todos os tesouros em 20 minutos. Porém, nada de barco ou nada: http://www.youtube.com/watch?v=HKgJ4BXrnPw&feature=related

Essa é uma subcategoria de boatos de jogos: o final dos jogos que não terminam. Exceto "Adventure", não conheço outro jogo de atari que tenha final - são todos composto por telas (hoje chamaríamos de mini-games) que se repetem e ficam cada vez mais difícil. Mas no imaginário da molecada, havia finais para Pitfall, Enduro, Smurfs, Pacman e quem sabe que outros?

"Enduro" foi um dos jogos que eu mais joguei, animado pelo boato do final do jogo na 10a corrida. Todos sabem que chegando à 5a corrida aparece um pequeno ícone de taça ao lado do contador de kilometragem. Pois bem, havia o mito de que, chegando à 10a corrida, o piloto descia do carro para receber uma taça "de verdade" e subir ao pódio. Joguei e joguei, mas não passava da 7a fase nos dias de desempenho excepcional. Um dia um amigo veio em casa e chegou à temida 10a fase, e nada de pódio, taça, nem um ícone diferente do lado da kilometragem. Fui consultar o moleque que distribuiu essa história na vizinhança que defendeu-se, dizendo "Não basta chegar à 10a fase, tem que vencer a 10a fase". Bão. Volto a encher o amigo e depois de muito jogo pá, 11a fase e nada. Volto lá no moleque e ele pergunta "Seu amigo ultrapassou 755 carros?", e imagino que mais algumas exigências (impossíveis) seriam apresentadas para ver o final do jogo.

Os boatos na verdade eram críveis pois uma coisa ou outra dessas existiam em alguns jogos, então, por quê não existiriam em todos os jogos? No master, se você apertasse diagonal pra cima/direita e botão 2 por oito vezes ao morrer no Alex Kidd, o jogo continuava. Truque similar existia para o jogo do labirinto no Master System. No MSX, certas combinações de cartuchos de jogos nos 2 slots resultavam em algumas modificações no jogo. No Adventure, do Atari, haviam vários truques que descobrimos, como pegar atalhos usando a ponte (esse inclusive minha mãe quem descobriu), matar o dragão "escondendo" a espada na outra tela, segurar o morcego, para pegar o dragão e guardá-los no castelo.

Os jogos tentavam reproduzir alguns aspectos da experiência real, e era natural supormos que toda a experiência real estaria lá implementada nos 4kb máximos que cada cartucho de atari suportava. Hoje o GTA4 permite tanta coisa que não julgamos mais boato você poder dirigir o helicóptero, por exemplo.

Outra boa do Pitfall era o túnel secreto que permitia você descer mais um nível e acessar o jogo "H.E.R.O.". Ou o túnel que levava à mítica última fase. Ou uma arma que permitiria você matar o escorpião. E por falar em H.E.R.O., já tive o privilégio de testemunhar algumas pessoas chegando ao nível 16, mas não lembro de nenhum boato envolvendo esse jogo (exceto o de que seria acessível a partir do Pitfall). Era um jogo difícil de encontrar, talvez por ser um dos poucos jogos em 8kb do atari.

River-raid... esse eu ouvi histórias que depois comprovei verdadeiras. Por exemplo, o final do jogo: Descobri, por esse post, que 5000 cartuchos foram vendidos com um final "secreto" para o river raid, onde o avião pousa num aeroporto! assista e compartilhe o entusiasmo: http://www.youtube.com/watch?v=O9cLZ3Jdi6g&feature=related. Aqui como termina o jogo "Normal": http://www.youtube.com/watch?v=23QXli6qU9U. Eu ouvi a história de alguém que jogava e passava com o avião por cima da casinha! Talvez fosse algum cartucho "mexido", ou com problema mesmo.

Eu mesmo dei origem a um ou outro boato. Eu tinha um Apple ][ e inventei de ligar a saida RF do mesmo no conector de cartucho Atari, para jogar Karateka. Infelizmente o Karateka não rodou (eu nem tinha o disco) e o Atari teve que ir pro conserto, mas contei muito essa história e aparentemente pegou. Valeu o atari queimado =). Outra vez eu e meu primo cansamos de jogar master system, e ficamos ligando e desligando o videogame, tentando as mais absurdas combinações de botões apertados para tentar acessar algum jogo escondido. Para mim, espetar um treco de plástico em outro, que fica ligado à TV e aparecer um jogo já era mágico. Não via o porquê de não poder inventar minhas próprias mágicas (foi quando eu descobri a programação, a linguagem arcana dos Computadores).

Hoje em dia, não ouço mais boatos sobre essas coisas, a não ser os velhos de sempre. Nos links do youtube que passei acima, algumas pessoas ainda os mencionam, e acho que acreditávamos tanto nessas coisas que nem nos passa pela cabeça questionar a veracidade dessa informação. É, coisas que a gente aprende quando criança realmente fica gravado a fogo no cérebro, não importa o que.

Mas hoje podemos ainda explorar esses boatos e viajar na maionese. Se alguém me contasse o que se passa nesse link (http://www.youtube.com/watch?v=d1jp0ceE8fk) há 20 anos atrás, certamente eu acreditaria!

Comments: Post a Comment



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?